segunda-feira, 10 de maio de 2010

Tempo

Só te encontro em fotos antigas.
E eu nem sabia que estavas ao meu lado.
E como sorrias...
E como eras tão presente...

Hoje sei que tu andas lado a lado comigo.
Mas não te vejo no espelho,
meu grande e fiel amigo.

Enquanto houver tempo te imagino no futuro,
mesmo que tu reveles o passado
e se cale neste instante.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Momentos (in)comuns

Um dos motivos mais importantes para a consagração de um escritor é ter um estilo próprio, inconfundível. Então, ao percorremos as páginas de Deu vaca, deparamo-nos com a singularidade de Catarina Cunha. Sua concisão remete-nos ao dia-a-dia. Entretanto, nesse lugar-comum o insólito se insurge. O olhar dela é uma câmera fotográfica registrando flagrantes. E deles extraindo o inusitado.

Assim, no começo da história Deu vaca o narrador afirma sua missão de “relatar os fatos” e que, apesar de não ter “o lastro jornalístico”, tem o dever “testemunhal”. Isso nos traz a impressão de mais uma crônica; “porém infinitamente mais espinhosa”, nos previne. O cotidiano é surpreendido com a aparição de uma vaca se banhando num chafariz. Tal evento se agiganta cedendo lugar ao estranho, na fronteira do realismo fantástico.

Mas seu olhar documental – e literário – não fica aí. Nele encontramos uma hipocondríaca que flerta com a imaginação; um poeta que só consegue escrever na presença de uma galinha, satirizando o ato poético; um passageiro que tem medo de voar, mas sonha ser sobrevivente famoso; uma trocadora de ônibus, representando a mulher moderna (publicado no JB); e, entre outras, a premiada Placa da sorte.

Vale ainda lembrar que, se Clarisse Lispector busca uma profundidade psicológica nos seus personagens, Catarina um instante, porém com intensidade existencial, como em O mar de Beth, no qual a protagonista frustrada pelo trabalho e com “os olhos marejados, foi para a praia conversar com o mar”.

Enfim, é um livro que traz reflexão sobre o ser humano com a graça e humor; é dinâmico como a vida contemporânea; enxuto como uma nota de jornal; e altamente poético, trazendo uma beleza inesperada para o nosso dia-a-dia. Essas são as tônicas do seu estilo.