A Maria Angélica, por velar meu sono
Vida íntima
Que ponham um cobertor
no meu corpo.
Mas não aquele cobertor
metalizado
acidentado de trânsito.
Mas um cobertor
aconchegante, quente
e quieto...
Que esse cobertor me cubra
e lá dentro descubra
os ventos mais secretos
(longos uivos inquietantes
porém quietos).
Que sob ele, manto de calor e pudor
tenha orgasmos incessantes.
E que ele vele e desvele
toda discreta orgiástica orgia da flor.
E depois de suar meu rosto.
E depois de delirar como louco.
E depois de retesar meu corpo.
Que derrame-lhe a suavidade plena e branca
da poesia
Que ponha um cobertor
no meu corpo.
E que ele seja seu corpo no meu:
um corpo nesses corpos corpóreos de veias e vida.
E transcendamos nessa imanência visceral.
E deixemos a assepsia fria da lâmina para outra ocasião.
- Afinal aqui, amor, não pensamos.
Apenas dormimos no amarrotado leito
que nos enlaça no lapso (íntimo) da razão.
Que ponham um cobertor
no meu amor.
E não deixeis esfriá-lo depois!