sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Porto do Rio


1.

Lá no cais do porto tudo é grande
e lento.

Os containers ocultam misteriosamente uma vastidão
contida em pequenas partes
milimetricamente calculadas,
simetricamente dispostas na logística irrefutável do mundo
que é maior que o porto e lentamente redondo
 cabe entre a menor distância
velocíssima de dois pontos.

O sol paralisante
aquece as arestas desses úteros metálicos
que se encaixam verticalmente
um sobre o outro, num medido espaço.
E deles nascem minúsculos chips
ou talvez mundos programados
para a monótona geometria da repetição.


2.

Lá no cais do porto tudo é descomunalmente
vertical.

Os guindastes são aberrantes unhas de aço que emergem da terra
e  cravam no bafo úmido do ar.
São antiquíssimos dinossauros que resistem
(já fossilizados)
à ferrugem do tempo.
São lentos...
São gigantes...

E disputam
como oblíquos alfinetes nos gráficos
quem será o mais alto,
o mais óbvio,
o mais sólido.

Mas os enormes guindastes...
Os grandiosos guindastes
não se sustentam a si próprios.

Corroem.


3.

Lá no cais do porto tudo é horizontalmente
sonolento.

Navios gordos e preguiçosos dormem
em colchões de plástico e água.

Navios gordos...
Navios sonolentos...

São como uma manada de hipopótamos que bocejam na lama
e cujos cus
são suas poderosas chaminés.

Seus passageiros ilustres?...
Pequenos moluscos
vindo de todas as partes do mundo
que se fundem na procriação erosiva
(e impermeável)
de seus belos cascos.


Lá no cais tudo é assim:
grande e pequeno.