sábado, 3 de março de 2012

REDUC - RJ

Num plano vácuo
sem ar
nem esperança
verticais e silenciosas chamas
competem numa lentidão desenfreada
com o céu, sol e ar.

quinta-feira, 1 de março de 2012


Crônicas que contam


Não é tarefa fácil tratar com humor e elegância certos eventos da vida. E tais incidentes perpassam cotidianamente por toda sociedade sem ao menos notarmos. Entretanto, Catarina Cunha capta-os com lente de aumento e o banal torna-se inusitado; o dramático, irônico – o senso comum poetiza-se.

É assim com Paulinho, de Pipocas no asfalto, que “nasceu numa família como qualquer outra”. Mas atravessando “a rua destrambelhado atrás da bola fugidia” choca-se com uma carroça de pipoca. A partir daí o choque maior se dá entre crença popular e ciência, pois tornara-se “um médium acidental” enquanto estava sob os cuidados domésticos, enquanto não o regulava o controle científico.

Ela conta também o pré-julgamento social sofrido por Samuel; o conformismo de Antenor, que vê anos de trabalho desmoronarem; a metáfora do piano testemunhando um desenlace amoroso; a conciliação da forma de narrar – assindética e mecânica – com a rotina de um desempregado; o simbolismo da água inundando a profundidade do ser. E, vale citar, a bela história de Esmeraldina (Ofício dos ossos) que só tendo herdado “um cachimbo fedido de fumo de rolo e uma dívida no botequim” tem que assumir árduas tarefas.

Por isso as crônicas desse livro se transfiguram em verdadeiros contos, devido ao tratamento singular e intenso dado aos acontecimentos. E utiliza-se perfeitamente da irreverência para tirá-los de uma massa uniforme. Tal como já o fizera no festejado Deu vaca.

Confira alguns de seus textos no blog
www.gavetaverde.blogspot.com