sexta-feira, 31 de agosto de 2012

BR 116


O sol despertava rebanhos de nuvens
leves e macias, tão macias...
que é injusto demais chamá-las assim.
Eram ovelhas como se ouve dizer por aí.
As ovelhas ou algodões
ou qualquer criação de Deus ou das crianças
bocejavam no leito azul do céu.

Ao longe,
os montes de onde se levantavam
e deixavam orvalhos de saudade
nos galhos, nas folhagens, no pasto...
No manto de veludo verde e velado.

Como sopros de meias no assoalho, deslizavam
na impalpável superfície do ar,
que tocava infinitos violinos
e com seus dedos finos e invisíveis
acariciava claras formas
e com elas se confundia
numa alquimia livre e líquida
sem corpo ou copo
que as pudesse moldar.

Seus rumos?...
A meteorologia ainda não previu.
Nem o tocador de rebanhos
(que bem o sabemos, basta-lhe sentir).

O rumo só se faz rumo
quando sem saber
já sabemos para onde ir.


Aí aconteceu que, no Km 142,
meus olhos caíram do alto,
rolaram
como rodas de plástico
na tangência fugaz do asfalto.
Rumo aos compromissos inadiáveis
que infla
e se esvai, dia a dia...