sexta-feira, 18 de abril de 2014


Os Complementos Verbais
Com um foco na questão adverbial

Suponhamos que alguém nos dissesse:

Eu compro.

 Esta frase estaria incompleta, pois logo viria a pergunta “Compra o quê?”. O verbo comprar então necessita de uma delimitação semântica, já que quem compra compra alguma coisa. Mas a relação predicativa estaria completa em

Eu compro um carro.

Assim, um carro seria seu complemento verbal. E neste caso específico objeto direto, pois tal complemento não se dá por intermédio de uma preposição necessária. Logo, o verbo seria classificado como verbo transitivo direto.

Dissemos preposição necessária porque há verbos transitivos diretos que vêm acompanhados de preposição quando queremos encarecer o ser a quem se destina a ação como

Amo a Deus acima de tudo.

Ou quando queremos evitar ambigüidade como

A Carlos chama Carolina.

Já na frase

Marcelo deu o livro ao seu colega.

O termo ao seu colega, tal como o termo o livro, também completa o sentido do verbo. Só que dessa vez sob o intermédio da preposição a. Por esse motivo ao seu colega é um complemento verbal que receberá a denominação de objeto indireto.

Para alguns gramáticos frases como

Carolina falou de você.

Também teriam como complemento um objeto direto, tendo em vista que de você é termo que se acompanha de preposição. Esses autores, como Celso Cunha, estão seguindo rigidamente a NGB.  Mas para outros, em que se incluem Bechara, Rocha Lima e José Carlos Azeredo, tal complemento receberá a denominação de complemento relativo tendo em vista que de disséssemos,

Carolina falou do ocorrido à amiga.

Teríamos dois objetos indiretos que não estariam coordenados, o que seria impossível.

Acrescenta-se também que somente seria objeto indireto  os termos que pudéssemos substituir  por pronome oblíquo :

Carolina falou-lhe do ocorrido.

Marcelo deu-lhe o livro.

Eu disse-lhe que ficaria em casa.  

Como se vê ficaria anormal a frase

*Carolina falou-lhe à amiga.

 

Acrescenta-se ainda que o objeto indireto só se dá com a preposição a e raramente para e se refere somente a ser animado ou capaz de tal.

Entregaram os convites de casamento aos convidados.

Como estava muito agitado, dei o osso ao cão.

Pedi perdão a Deus.

Por  fim vale lembrar que o termo transitividade, segundo Kury, significa em latim passar do verbo da voz ativa em passiva. O que ocorre com os verbos transitivos diretos e, raramente, com os indiretos .

 

A polícia prendeu os ladrões do banco.

Os ladrões do banco foram presos pela polícia.

 

Dissemos até aqui que os ou objetos diretos, indiretos e complementos relativos  são necessários para restringir semanticamente um verbo, que se encontra em aberto, ou seja, os verbos transitivos. Esses complementos são termos integrantes da oração ou, na denominação de Bechara, são argumentais, são indispensáveis para perfeita compreensão do enunciado. Todavia a questão não é totalmente esclarecida quando nos deparamos com o período

Ontem, os surfistas foram à praia.

A gramática mais tradicional vai considerar o termo à praia como adjunto adverbial. O que causa estranheza é que se elidirmos tal termo,

Ontem, os surfistas foram.

A oração fica semanticamente incompleta, pois adviria logo a pergunta “Foram aonde?”. Logo, não há motivo para encará-los como um mero termo acessório da oração, como um adjunto adverbial. Fazer isso é querer equipará-lo ao termo Ontem, que pode ser facilmente retirado sem causar dano à compreensão do enunciado.

Os surfistas foram à praia.

Assim, à praia deve-se enquadrar como um verdadeiro complemento verbal. É o que defende Evanildo Bechara, Rocha Lima, José Carlos Azeredo e Adriano da Gama Kury.  A questão toda é a não unanimidade do termo, apesar de todos detectarem o mesmo fenômeno.

Evanildo Bechara vai chamar de complemento relativo, mas põe no titulo deste tópico, na sua Moderna  Gramática Portuguesa, de “Determinantes circunstanciais ou adverbiais.” Tal termo tem a vantagem de ser bem amplo, tal como um hiperônimo.

Rocha Lima vai chamar de complemento circunstancial.

José Carlos Azeredo segue a orientação de Bechara e também chama de complemento relativo.

Adriano da Gama Kury vai denominar de complemento adverbial.   Pois diz:

“Complemento adverbial é o termo de valor circunstancial que completa a predicação verbal de um verbo transitivo adverbial.”

Entretanto, há aí um problema de denominação, pois se estamos falando de complementos verbais, é porque há um complemento necessário do verbo. Se usarmos, porém, complemento adverbial estaríamos então falando, seguindo a lógica anterior, de um termo que completa o sentido do advérbio?

De qualquer forma, se referindo à limitação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, admite, em relação aos verbos,  Bechara, na sua Lições de Português pela Análise Sintática, a denominação de “verbos transitivos adverbiais, isto é, os que pedem como complemento uma expressão adverbial”(p.52).


***
Parte inicial da monografia apresentada, em fevereiro de 2014, no curso de Pós-Graduação (Especialização) do Liceu Literário Português, sob a orientação do Prof. Evanildo Bechara.
 

sábado, 5 de abril de 2014

Poema do dia anterior

Na certeza de escrever
um poema certo,
guardei-o só na esperança.
Ai que me inspiro agora!
E me perco na sua lembrança...

quarta-feira, 2 de abril de 2014


História, atualidade e contradição


O mundo atual, pós-moderno e pós-estruturalista, não comporta mais dicotomias em diversos ramos do saber e político-econômico, inclusive. Comunismo e capitalismo é uma delas. As relações que vivemos não são mais tão simplistas e duais. Dizer que qualquer governo que tenha o mínimo de estado é comunista  é reduzir as coisas (além de ignorar o conceito do termo) e não ver a complexidade que elas trazem em si, apesar de haver um outro complexo bem maior e de outra ordem, cujo primeiro sintoma surge quando se afirma o que se nega...

Continuando. Se seguirmos essa ótica, poderíamos chamar os EUA de socialista, já que quem segura as crises bancárias de lá é o governo, como o fez em 1929. É sabido também que no socialismo soviético também foi tolerado capital privado (com suas limitadas proporções) durante a "New Economics Polítics". E para essas coisas já existem nomes: keynesianismocapitalismo de estado na china e etc. Assim, de acordo com novas propostas que atendam a demanda da história, outras formas e nomes serão inventados.

Por outro lado, as ideias não se perdem se constroem. Digo isso porque a confusão de opiniões precipitadas e contraditórias - que mais gritam do que analisam pacientemente o fenômeno - está em afirmar que o comunismo permanece em tudo e, ao mesmo tempo, só faz parte da memória.  Dizer que o socialismo não existe mais é o mesmo que dizer que a roda nunca foi inventada. Se temos 13 salário, vale transporte, férias e direito à greve (que muitas vezes, nem todas talvez, são justas e atendidas) tudo isso advém de luta de trabalhadores, que na época da Segunda Revolução Industrial trabalhavam 12, 13, 16 horas diárias.

As ideias não se perdem se complementam, se imbricam e se transformam. Mas não se perdem. Se há, hoje em dia, uma demanda por melhorias por saúde e educação é porque o Estado não está cumprindo com eficácia o contrato social, onde deve haver direitos e deveres. Se há uma demanda por igualdade é porque a riqueza está tomando uma via cada vez mais afunilada, com péssima distribuição de renda. Se há uma demanda por melhoria de qualidade de vida nas cidades (transportes, por exemplo) é porque não se aguenta mais o inchaço urbano, a concentração de gente, poluição e ratos nas grandes metróloles.

A verticalização da economia e dos grandes centros urbanos são modelos que devem ser superados. Talvez aí o socialismo, aliado com outras formas de pensar, pode dar sua contribuição. A ideia principal, por fim, é agregar - e não, segregar.