segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Volta pra casa na Central do Brasil

             Posicionei-me bem na frente da porta com um monte de gente atrás e dos lados, todos com o mesmo objetivo: lugar pra sentar. Mas já tinha experiência. Abrindo a porta a manada correu. E fui uns dos primeiros a ter assento. Fiquei olhando distraidamente as popozudas do Face. Foi quando apareceu uma senhora em pé. Ao lado um homem fingia dormir. Arrisquei, sem que ela visse que a tinha visto, os olhos para os seus. Disfarcei e tentei me concentrar determinadamente no Face. E ela fragilmente se jogava para frente e para trás, encostando nas minhas pernas as suas, com o balanço do trem. Os braços eram como se fossem ramagens secas, de árvores que se dependuram nas alças do tempo; as rugas do pescoço pareciam leito - de seco rio -, e se escondiam pelas golas de um simples e desbotado vestido de flores amarelas; já nas canelas viam-se de novo as rugas, interrompidas em toda parte por inchaços cardiovasculares azuis. Pensei na minha mãe, na cadeira de rodas que tinha que comprar pra ela: - Quer sentar?