Simples, mas amplexo
Se do passado colhemos saudades
e no futuro semeamos esperanças,
o presente é um ponto no abraço.
Sem fronteiras ou distâncias.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
terça-feira, 1 de setembro de 2015
sábado, 29 de agosto de 2015
Devaneios
Quem me dera ter um amor
que agora não tenho.
Não para dizer que o tenho
mas para não temer a dor
que neste instante temo.
Quem me dera ter uma dor
que ainda não temo.
Não para dizer - já a entendo!
Mas desentender o que for
que só se tem sem remo.
Quem não me dera
o que agora tenho.
Latente.
Pulsante.
Quieto.
Silenciosamente quieto.
Na saliência vigente e velada
das vogais brancas dos lençóis,
arfantes mas discretos.
Quem me dera o que se tirou
da razão, do sol e da primavera.
Mas sobeja neste meu coração
de desesperança e espera.
Quem me dera ter um amor
que agora não tenho.
Não para dizer que o tenho
mas para não temer a dor
que neste instante temo.
Quem me dera ter uma dor
que ainda não temo.
Não para dizer - já a entendo!
Mas desentender o que for
que só se tem sem remo.
Quem não me dera
o que agora tenho.
Latente.
Pulsante.
Quieto.
Silenciosamente quieto.
Na saliência vigente e velada
das vogais brancas dos lençóis,
arfantes mas discretos.
Quem me dera o que se tirou
da razão, do sol e da primavera.
Mas sobeja neste meu coração
de desesperança e espera.
terça-feira, 23 de junho de 2015
Entre erros e acertos
"Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de quinhentos é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há portanto certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade."
Este fragmento foi citado no dicurso de posse de Evanildo Bechara na Academia Brasileira de Letras e pertence a Machado de Assis. No entanto, logo surgem dúvidas quanto à sua correção neste período: "Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes." Entendendo a oração subordinada substantiva "que as línguas..." como completiva nominal (ou adjetiva como quer Bechara), deveria ela vir encabeçada pela preposição "de" (antepondo-se à conjunção integrante "que"). De qualquer maneira, ele mesmo diz em sua "Moderna Gramática" que as substantivas "são transpostas a adjetivas mediante o concurso da preposição"(p. 468). Já na gramática de Azeredo há a possibilidade do apagamento da preposição (p. 314). Mas sabemos que ele se aproxima de uma gramática de usos, sem o rigor normativo. Rocha Lima e Celso Cunha não fazem menção a esse apagamento. Mas Marcos Bagno elenca um amplo corpus da NURC (Norma Urbana Culta) e intitula isso de queísmo. Aliás, fenômeno já observado por outros estudiosos. Por fim, nos esclarece Claudio Cezar Henriques, em seu manual "Sintaxe Portuguesa - para a linguagem culta e contemporânea" (p. 106), citando Maria Helena de Moura Neves, que segundo a pesquisadora não "é das mais defensáveis a afirmção de que esse tipo de omissão só ocorre 'num registro mais informal'" e, num exemplo bem semelhante ao nosso, vê-se em Padre Antônio Vieira: "Não há dúvida que na comparação de império a império, o uso e exercício dele foi muito mais humano e benéfico" (Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes).
Por outro lado, poder-se-ia ver a oração subordinada não como completiva nominal, mas como subjetiva. Mesmo assim não observamos registro, em nenhuma dessas gramáticas, de construção com o verbo impessoal "haver". Só se, semanticamente, entendermos "Não há dúvida" como "É certo", "É claro" e por aí vai. Assim, a subordinada pode prescindir da preposição. Mas tal análise é falha porque se trata de um verbo, como dissemos, impessoal, e segundo Bechara umas das características da subjetiva é o verbo da oração principal estar na terceira pessoa do singular (p. 484). Ele está, mas não se remete desinencialmente a um sujeito, por tratar-se de uma oração sem sujeito e por isso não ser conjugado em todas as pessoas do discurso.
A gramática como vimos nos deixa num labirinto de sentidos e estruturas, nos prega peças - inclusive a do erro -, mesmo se tratando de um grande mestre. Mas, como está no fragmento, até Machado abre brechas, eventualmente, na norma para o dinamismo da língua, se aproximando do uso comum e hodierno, e se afastando, brilhantemente, para a lucidez de um estilo genuíno e próprio.
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