sexta-feira, 27 de março de 2020

A Jéssany dos Anjos Lira

Carta para uma aluna


Suas dúvidas,
suas incertezas,
seus receios
                      do desconhecido.
Seu jeito calado
(e tímido)
de questionar o mundo.
Tudo isso
e mais ainda aquilo
que não se disse
mas ainda persiste
num bocejo de ostras e pérolas
num mar
                 profundo
amadureceu
e evoluiu.
Se trans
               bordou.
Como o calor do sol
que transborda os lares em pleno meio dia.
Como o plenilúnio das marés
que ultrapassam as                das cidades
                                    margens
e enchem nossos corações de desejos e nostalgias.

Amadureceu.
Tomou sua forma na Natureza,
tal como as cores
definem as formas
                                  das asas
                                  das borboletas
ao saírem das crisálidas
já feitas: plenas e abertas.

Mas tudo isso não dissuade de vez
(como um branco sonolento no varal
sob o sol desértico do pátio
não dissuade todo avesso da quietude).
Não dissuade das dúvidas o ziguezague
dos destinos incontáveis e cegos dos ventos.
E talvez - quem sabe? - haja uma            de dados
                                                            chuva
de quatro lados com cinco faces escancaradas de dentes
e seis-número-algum.

O voltear,
o ir e vir,
a reticência do melhor campo,
da flor com o "mais melhor'
néctar,
o deixar-se escorregar na gangorra da brisa,
ou na impetuosidade do vendaval.
O descansar em paz...
Fingindo-se de morto sobre uma pedra
(o ser pedra para não ser presa),
                                      o rabiscar, o rasurar, o rodopiar...
O ar num balé de riscos
                            de risos.
O ar branco do papel-existência (!)

A cada etapa da vida
as certezas são feitas de dúvidas diferentes.


Por isso, nunca pare de tê-las;
nunca pare de se questionar.
De se imaginavoar pelos

ares
com as asas da poesia, principalmente.
Só assim, pois, enxergamos
a verdade diária
                              das borboletas
que nascem dentro de nós.