sexta-feira, 30 de abril de 2021
segunda-feira, 26 de abril de 2021
sexta-feira, 23 de abril de 2021
quarta-feira, 14 de abril de 2021
O cara sem crédito
"O poeta é um fingidor", Pessoa
Fui desacreditado quando nasci.
Me jogaram no orfanato dos homens
já crescidos, cujas faces sérias
tecem sombras e vários mistérios.
Fui desacreditado na escola.
- Seu filho tem déficit de atenção.
Não lê. Não escreve. Não ata cordas
da vida nem mesmo as dos sapatos.
Fui desacreditado no primeiro amor.
No segundo no terceiro... E no quarto
descobri a pálida nudez das paredes:
mais tesão que a palavra emplumada.
Fui desacreditado por vizinhos:
- É um cara muito, mas muito esquisito!
No trabalho:
- Está sempre, mas sempre atrasado!
Por colegas:
- Por aí vai... sem pé, cabeça ou destino!
Enfim, fui desacreditado até neste poema.
Por bem! Pois só assim podemos, irmãos
fingir juntos - e acreditar em alguma coisa.
sábado, 10 de abril de 2021
Barroco
Se me coloco no lugar do outro,
não sei com quem sou, perco-me já.
Mas se sigo com a bunda no sofá,
num excesso só meu, estarei louco.
Se parte de mim se parte no mundo,
cabe-me dentro a metade confusa,
aquela que me pertence e não muda.
E por ser tão inteiro até me confundo.
Cada um tem seu ser e sua metade;
cada metade de um que, por completo
ser, por silencioso e tão discreto:
é concha no mar que aqui dentro invade.
Sob céu, somos sol e lua, cada estrela.
Universo - e eternidade rasteira.