quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Paiol


Uma árvore é mais bela que a palavra árvore.
A palavra árvore é bem mais que qualquer arma.
Mas a palavra arma também se faz bela ou feia.
(Como qualquer paixão pode ser feia ou bela.)
Por exemplo: armo-me de ódio ou medo ou flor.

Por isso, às vezes, é melhor deixá-la bem guardada
entre minerais e páginas de sono. Nos dicionários.
E só sacá-la quando for útil... Ou muito necessária.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

sábado, 4 de setembro de 2021

                              A Simone Conforto

O baile das saias


Ando nas estrelas
porque andar por baixo
anda muito chato.
Só verniz não espelha
solas de sapatos.

Curvo os arcos-íris
porque a curva do Homem
vai muito fechada.
Não flui, contradiz.
É ponta de faca.

Bailo de saias líquidas
porque pesa a armadura
do tédio e disfarces.
Bailo em núpcias
nos seios nus dos mares.

Das nuvens recolho
a lã que transborda
tardes cor de rosa.
E borda num sopro
a paz que renova.

Essa paz sou eu.
Em parte. Pois a outra
faz parte do breu.
Lua cheia. Lua nova.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

As chaves


Não saio de agosto
como quem sai de casa
sem chave que abra
memórias de bolso.

                *

Se setembro se abre
- portas invisíveis -
e o horizonte se fez,
vem por dentro a chave.