quarta-feira, 30 de junho de 2021

Em junho


Ao final do outono
segue-se o inverno.
Recolho-me em sonho
e entrego-me aberto.

                *

Os cacos dos dias
reúno em mosaico.
Se durmo em vigília,
dos sonhos não saio.

domingo, 20 de junho de 2021

Carta sobre o Novo Ensino Médio


Ilustres,

Peço um minuto para algumas palavras necessárias e importantes sobre a proposta do Novo Ensino Médio promovida, na calada da noite, pelo governo estadual do Rio sem a consulta aprofundada dos envolvidos e da sociedade.
 

Para não dar ar de aborrecido diremos SIM à pergunta: Vale a pena fazer um novo ensino médio? Mas seguem-se importantes ressalvas, que  -  saindo da aparência enganosa da publicidade  -  darão um sentido autêntico e honesto ao termo NOVO. Aí sim começaremos com o fundamental, já que tratar algo como "novo" através de truques velhos, além de má fé, tem cheiro podre de campanha política.

Senão vejamos como ficaria um verdadeiro NOVO - com ares frescos da manhã. Em um turno as matérias tradicionais; no outro, cursos de habilidades específicas. Assim, os alunos não vão sair perdendo, pois:

- terão os conhecimentos de humanidades e de ciências necessários para boa formação;
- terão aprimoradas habilidades específicas para quem quiser logo ingressar no mercado de trabalho, sem perder a perspectiva de um curso superior; 
- ficarão ocupados em dois turnos, evitando os perigos da rua e não dando trabalho aos pais. 

Em contraparte, os professores também sairão ganhando: 

- irá se contratar mais profissionais da educação;
- irá incentivar a formação de mais profissionais, incrementando a vida nas universidades (seja particular ou pública); 
- dará uma vida única ao profissional, não tendo que dividir com outras atividades para compor sua renda;
- além de aumentar a autoestima não só dos docentes mas de todos envolvidos.


Mas infelizmente, através de cortes com o falseamento do termo interdisciplinariedade, tirando a obrigatoriedade do ensino integral de Biologia, Química, Física, Espanhol, História, Sociologia, Filosofia e Educação Física, as únicas obsessões do governo são:

- tirar o acesso das camadas mais baixas a um ensino amplo e de qualidade;
- empurrá-los para um mercado de trabalho, cuja mão de obra é barata;
- aculturá-los de toda questão social e política - e ainda éticas e afetivas -, tornado-os acríticos e meros serviçais automatizados; 
- extinguir professores concursados e colocar terceirizados, com garantias trabalhistas precárias;
- reduzir seus salários com a pressão de contingentes de desempregados;
- moldá-los numa aula dirigida e estéril, sem debates vivos e críticos; 
- criar disputas internas em nome de uma "pseudo-meritocracia";
- evitar reivindicações, como as  greves, previstas pela Constituição; 
- sufocar o amplo debate democrático sobre a condução pedagógica.


Diante disso, é hora dos pais, alunos, profissionais da educação (de merendeiras a diretores)... enfim, é hora de TODOS dizerem NÃO ao "Novo Ensino Médio" sem o amplo e imprescindível debate popular.


Grato pela atenção,

Prof. Ivonilton Gonçalves de Souza