segunda-feira, 31 de maio de 2021

Psicanalítico


Poderia rimar maio
à palavra desmaio.
Mas fazê-lo? Pra quê?
Não é poesia, é apelo.
Dramalhão de tevê.

                *        

Em desmaio de sonso
é mais sábio dormir.
Mais verdade no sonho
que o sapo o verbo polir.



sexta-feira, 28 de maio de 2021

O depois das coisas


Sim. Haverá certo dia
que não se deseja mais
que a exata lucidez do sol
a esquadrinhar as sombras
entre as paredes e memórias
da sua tênue descida.

Sim. Haverá certo dia
que irá valer muito mais
a nudez sem voz do azul
descortinado do céu
que a policromia veloz
do beija-flor audaz.

Sim. Haverá certo dia
que basta uma simples brisa
pra se ter mais aventura
que no cume do Himalaia.
E a lassidão da preguiça
vem pôr fim a bruta luta.

Esse dia será tão certo 
como o curso das formigas,
o rezar contas do terço,
o inabalável metal
do sino às seis da tarde
e a fluidez da vogal

sem palavra. Já no berço
circunspecto da idade,
emenda-se os fios da vida
com a certeza da saudade.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Mão de obra excedente


A mão de obra excedente (desempregados) é um grande negócio para o capitalismo. Abaixa os salários, pressiona quem está trabalhando a produzir como um cordeiro, que não se sabe realmente se é de Deus, "justifica" a não implementação de benefícios trabalhistas, pois "não teria pra todos". E agora serve como cabo eleitoral de Bolsonaro para atacar as necessárias medidas de isolamento contra a Covid, em vez de dar suporte social. 

O que  há é uma grande mentira quando o poder executivo, fantoche dos megas empresários, diz que quer solucionar o desemprego. Não quer! O capitalismo, da maneira avassaladora que é dado, precisa dele como escudo para reivindicações trabalhistas, conquanto que esse nível não fique fora de certos limites, o que acarretaria distúrbios  sociais e, pior que isso, um endividamento que teria efeito cascata, atingindo até os credores. 

Mesmo assim parece que a resiliência, a passividade dos brasileiros (até certo ponto justificável por um "salve-se quem puder" mas com complexo de vira-lata), sob comando de igrejas de má fé, entusiasma a alta burguesia a suportar mais que um limite razoável de miseráveis, levando sem piedade - e pondo toda culpa na falaciosa meritocracia - muita gente para o céu bem antes do que se imagina. Multiplicando mais fome do que pão. Mais desesperança que confraternização.

terça-feira, 11 de maio de 2021

O encontro


Como se fechasse botões pelo chão
a vida, meu caro e nobre amigo
é agulha frágil como uma formiga.
Mas com braços de aço quando suporta
em suas costas a folha verde e espessa.

Até então encontrar o invisível ponto
caminho da tinta fresca, uma bota.