segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Dobradiças


Tenho muitos colegas 

alguns de 20

outros de 18

e outros até de 16

(não importa,

a geração é outra

e a janela é aberta). 

E muitos já pensam

tal sóbrios quarentões:

sem batuques na rua

sem violas e festas

sem luas indiscretas

nem bosques violados.

Uma pena, 

                     talvez.


Já outros... de 50,

48 ou, quem sabe, 46 

(não importa,

a geração é a mesma

e a janela se fecha).

Estes, amigos,

nem parecem

ter completado 

ao menos seus 16. 

Pois, de tanto tocar, 

não se tocam ainda

que a vida passou

tal vez.

              Uma pena!

sábado, 5 de setembro de 2020

No tecido da noite


Foi nesse dia nu de areia fina

que bem soube ele que era sua vez:

da lua branca, esbelta, alta e cheia

na bracura imóvel da sua tez.


Nesse dia soube também amar

como o mar ama e lascivo quer

a virgindade secreta das rochas

e a voz inquietante de cada grão.


Porém... Diz, meu bem, como amar preso?

Entre os ossos dos tijolos da casa,

através do intransponível peso

do vidro surdo e opaco da janela?


Ama-se sem se ver realidade bela?

Foi por isso que assim resolveu

- não como quem simplesmente resolve

comparar poesias ao mistério do eu.


Foi por bem que com coragem resolveu, 

como quem se resolve livre voar

nas asas noturnas e etéreas do ar,

como mariposa rumo à luz no breu.


Foi então, no ofuscado luzir do amor, 

ao limite do penhasco e seu vão.

Não se jogar. Pois isso, senhor,

é coisa de jovem com depressão.


Mas iria lá por bem fotografar

a foto nunca vista, linda e bela,

do céu na lua, da lua lá no mar:

gotinhas de luz em escura tela.


Mas na liquidez sórdida da noite

terrivelmente e crua sombra surge:

- Passa bem cá, rápido e pra já

a carteira, relógio e seu celular.


Pois bem. Carteira o jovem não tinha.

Se a tinha, era de pouquíssima valia,

nem mesmo um centavo a mais sequer

do alto valor de sua violada da vida.


Do rapaz (cujo único desejo lá

era à bela namorada postar

a agulha do tempo em redes sociais)

ficou o pesar em páginas de jornais.


E o sonho do selfie com o céu

veio apenas como mais um grão

entre as pegadas cruas da vida.

E a pálida areia da lua jaz em paz


tecendo o frio da noite no chão.