sábado, 9 de junho de 2012

Thomas Buddenbrook


"...repousamos sobre a vasta simplicidade das coisas exteriores quando estamos cansados pela confusão das íntimas."
Thomas Mann


Agora seu olhar vaga na liquidez inóspita do infinito,
vaga e já sem pressa
languidamente se dispersa como ondas de dúvida e interrogação.

O nó da gravata.
Os compromissos inadiáveis.
Os jantares sem iguais, a Sala das Paisasens, lustres e cristais,
a feição tensa e irreparável dos músculos.
A ambição e - quem diria - até a inabalável certeza do mundo: Deus.
Sim, tudo isso se perfila
(quando ter era ser)
na inócua fragilidade da vida.

Mas o ser não mais tem.
O ser é sozinho com o mundo inteiro, Tom.
O ser tem a vida que não te sustenta.
A vida do nó, dos compromissos, das Paisasens,
dos jantares, dos cristais e lustrosos músculos insondáveis
vida não era, Tom.

E agora?...
Agora a lógica da hora se liquefaz,
como se liquefaz as pedras das montanhas,
o outono no inverno,
as pétalas do tempo.

Sim, Tom, enquanto há tempo contemple-se.
E se tiver dúvidas demais
vasculhe seu íntimo amor
naquela singela monotonia
(e imensa) simplicidade do mar.

3 comentários:

Catarina Cunha disse...

Adorei. A 3ª estrofe então está magnífica!

sissa disse...

amigo que lindoo!!
belo e forte!!
amei!!
si

profisabela disse...

é necessário o descanso, isso me lembra muito a poesia de fernando pessoa, tabacaria, em que ele fala do cansaço em pensar metafisicamente.Realmente cansa, às vezes.O caos interior é fato, nunca vamos nos livrar dele.Contudo , não pensar sobre ele é também não pensar sobre como somos e atuamos no mundo,aí já é problemático.