terça-feira, 17 de setembro de 2013

Despertar


Um galo sozinho não tece a manhã
ele precisará sempre de outros galos.

(João Cabral de Melo Neto, 'Tecendo a Manhã")


O amanhecer da sociedade surge quando há uma síntese de duas ideias opostas - algo que se dá continuamente na rua, na escola, entre pais e filhos, entre dois namorados, entre patrão e funcionário, entre povo e governo e, claro, no meio acadêmico, mesmo que tenhamos que conviver com a "consciência individual" e o "ato de conhecer" isolado do sr. Olavo de Carvalho (ver sua home page). Mas felizmente o mundo é bem maior, interativo e complexo do que isso, pois um habitante que tenha nascido e vivido eternamente sozinho numa ilha nunca conseguirá soletrar a palavra sociedade.

Assim, essa rede de ideias (tese e anti-tese) - que amalgamadas a outros fatores tecem a história - depois de uma árdua luta se conciliam, selecionando aquilo que é mais produtivo e proveitoso para humanidade. Entretanto, dentro desta unidade, desta suposta clarividência platônica, surge em seu próprio seio, como um tumor, outra oposição, outra contradição, que se agregará posteriormente, num movimento de junção e disjunção, contínuo e fluido - como a violência e a calmaria das ondas do mar sob o olhar apaziguador e dócil do horizonte.

A ingenuidade de Hegel (bem aceito pela direita acadêmica) é achar que as coisas se dão de maneira tão abstratas assim; achar que unicamente a ideia - esse ser puro e santo - é responsável por toda historicidade é ignorar o meio em que vivemos. Ela, antes de tudo, está submetida, ou melhor, está numa troca profunda com uma realidade concreta e material. Por si só é abstrata, intangível, e deve estar sim vinculada com a vida, com a realidade prática. É por isso mesmo que nos diz Paulo Freire que primeiro devemos ler a vida e depois as palavras.

São por esses motivos que o despertar da sociedade se faz e refaz continuamente. Só quem quer acabar com a história e com a vida não vê isso.

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