sábado, 11 de julho de 2020

Em plena pandemia


Uma mulher com cabelos tingidos de loiro (nada contra com quem tinge o cabelo, viu?), batom escarlate e sem máscara entra na farmácia um tanto, vamos dizer... "alegre" (nada contra com quem fica "alegre", viu?) e rebolando (nada contra com quem rebola, viu?), pega um desodorante e entra na minha frente na fila, mais do que cordial, humanitariamente, me afasto, e diz, em tom "alegre" e alto, como se sua boca escarlate fosse o próprio spray do desodorante, e diz ninguém vive sem desodorante (nada contra com quem usa desodorante, viu?), ao entregar para registro e dar o dinheiro para compra, o senhor do caixa diz que falta mais 5, e ela diz como mais 5, e o senhor, 10 sai cada um só se levar três, ela, como assim? tá escrito lá, ele, desculpe-me, olha direitinho, ela, tá dizendo que não sei ler?!, ele, não, senhora, tô dizendo que esse preço é de promoção, a loira volta, aperta os olhos diante a etiqueta de preço, pega mais dois e diz, não mais como sua boca fosse um spray escarlate, mas como um jarro de viro grotesco que se espatifa no chão da cozinha, diz VOU PAGAR COM CARTÃO, CRÉDITO!, o senhor faz o registro, entrega-lhe o produto, encaminha-lhe a máquina, ela digita e... erro, digita e... erro, digita pela terceira vez e... a bolinha da máquina fica girando num silêncio galático, como numa reza para as estrelas, e... e... pronto, transação não autorizada (nada contra com quem tá sem crédito, viu?), a loira, sem máscara, com batom escarlate, boca de spray e que não vive sem desodorante, joga-os contra o senhor dizendo essa farmácia fede, e sai rebolando ao ar com suas bundas voadoras (nada contra, mas...).