quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sítio urbano


A população cresce a cada dia.
A cada dia, há solidão.
Um milhão, um bilhão, um não
de pessoas esparsas
disfarsam-se
num disforme espaço quadrado,
na harmonia da ameaça.

Na cidade não cabe mais gente;
não cabe mais árvore
nem flor
nem calor.

Na cidade os negócios crescem;
prédios e favelas emergem.
A propriedade invade o esgoto.
Feito de loucos desvairados é o esgoto.
O esgoto que não esgota;
o esgoto que não morre,
mas mata.
O esgoto que engorda,
mas é magro.
O esgoto magro e amargo
invade a margem da cidade.

No computador está a inteligência;
nas máquinas, o braço;
no coração, marca-passos;
nos passos apressados:
tensão, medo deflagrado.

Cuidado!
Um assalto à mão armada.
A arma pode ser de qualquer espécie.
Desde canivete de moleque,
até um granada,
revólver ou pistola,
metralhadora com baioneta,
arma nuclear,
ou mesmo: uma caneta
de tinta espessa e vermelha.
A arma está no olhar de ódio.
Arma-se muros no espaço
trancado da cidade.

Presos pelo desejo de liberdade,
unidos por uma comunicação muda e fria,
esquecem-se do flutuante azul do dia
e respiram e transpiram e conspiram
um cinzento cimento
os cidadãos da cidade.


Publicado em 2002 no Jornal Arte e Política.
Obs.: Há umas poucas modificações, sendo este o texto definitivo.

Um comentário:

sissa disse...

eh isso amigo e caro poeta!!

esse é o cidadão moderno,
cidatino burgues destruído em sua própria ruina
ameaçado pela destruição sócio ambiental econõmica
somos nós fechados pra balanço,acorrentados aos nossos bens!!
quero fugir e vc?
bjoo