sábado, 21 de janeiro de 2012



Rua Goindira


1.

Na concreta densidade da laje
perfurada por protuberantes vergalhões corroídos
que furam o ar meio metálico e meio de mato.
Lá no alto desse pórtico
situado num inócuo ponto do vácuo
mas sólido como vigorosas vigas avermelhadas no concreto,
por certo corroído mas antes de tudo
ereto,
dois cães - não de mármore
mas com ossos, salivas e carne -
tomam guarda
daquela comum e singela casa.

E esperam boquiabertos
os ossos de domingo;
do frango assado de domingo
fiado no seu cumpade - bem ali,
logo ali na esquina.


2.

Ao sol de meio-dia
o asfalto é uma chapa de aço
saída da siderurgia
que cruza todo espaço
e curva-se empenando-se sobre as cabeças
faiscando sob o céu e sol.

Mas justamente nessa hora...
Nessa hora de metal,
quando as moscas bailam sobre as mesas
e um cão torpe e esquálido
languidamente lambe as sombras, goteja sem ilusão.

Nessa hora de total preguiça,
mas nem por isso menos irradiante,
nós vemo-los lá longe
ao dobrar da esquina
com mochilas junto às costas
e indecisos futuros à frente
os alunos das três escolas
as quais têm sítio ali.

Alunos do mundo,
alunos de Imbariê.
Alunos do futuro
e do presente viver.


3.

Quinze anos completados
sob a guarda de tais cães,
e se o nome era estrangeiro
o sobrenome dos Santos, bem brasileiro.
Mas que importa!
Esteve em Paris com Flaubert. E Bovary...
Coitada! pensou escutando trotes de pangarés.

Ultimamente um calor no corpo...
Mas não era fora, era no meio.
E o que vinha do meio moldava-lhe
em saltos altos e aos poucos.
Os seios e as faces hexagonais resolviam-se.
Mas ainda não bem sabia pra quê.
Até que uma moto cortou o mundo e seu coração.
Ah...  e ela deslizou seus braços na janela...
Era só mais um menino.
Um belo jovem - quem sabe? - de Imbariê.

Um comentário:

sissa disse...

amigo!!

belo poema crõnica
do dia a dia de imbarie descobrindo até mesmo o Romeu e a julieta de Imbare!!
acehi muito masssa, fala ao coração, parabéns!!