O dentro e o fora: o tempo
No dia 20 de outubro
ela parou de marcar seu calendário.
Parou como o azul
para na gaivota.
Parou como o monte
para na névoa.
Parou como o oceano
para na geleira.
Parou como o infinito
para no instante.
O ano? – agora não importa mais.
Se era manhã ou tarde, não importa.
Se era frio ou calor, não importa.
Se desatino ou dor, não importa.
Se cristã era, não se sabe: tanto faz.
Foi no dia 20, mês de outubro,
bem atrás da porta, no armário
cujas roupas de lã, luto e veludo
(ou de alguma rima da infância)
que ela se fechou na lembrança
bem juntinha ao seu calendário.
Talvez percebesse que, daí em diante, todos os dias seriam dia
20 de outubro.
Ou de qualquer outro mês.
Como todas moscas nas mesmas xícaras de café ao amanhecer
como todo vento em folhas secas é silêncio de chuva e
saudade
como todo morder de maçã é como pá que escava e fere a terra
como todo mato é afiadíssimo como facas apontadas para o céu
e todo céu é escudo de chumbo antes da tempestade chegar
e ainda toda impotência das buzinas na av. Presidente Vargas
(teria trabalhado lá?)
[ao sol da tarde, a mesma de séculos
e os séculos os mesmos a cada gesto intolerante e inafiançável
[do homem na natureza.
ela parou de marcar seu calendário.
Mas no dia 21...
Bem... esse dia...
Esse um não existia mais.
Um comentário:
Bonita poesia
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