domingo, 7 de março de 2021

                       A Suzana Vargas

Meu igual



Nicolau gostava de se enterrar

na areia e ficar com a bunda no sol.

Como centro gravitacional do corpo,

dizia toda energia vinha dali.

Essa abundância brutal o faz sorrir.


Já Maria bebia água com purpurina.

Dizia que assim teria o infinito

dentro de si. Todas as estrelas-luz:

cometas e luas e planetas-pós.

Sim. Tê-lo-ia guardado quando bem só.


Eduardo andava de costas na rua.

Pois, para ele, andar de costas é estar

frente a frente com o que já passou.

É ter o futuro bem ali atrás,

como quem cutuca e rouba-lhe a paz.


Mas Maria, Eduardo e mesmo Nicolau,

que nunca se viram, eram iguais.

Separados, juntos na diferença

que equipara já os homens desde cedo:

o medo de se ver outro no espelho.

6 comentários:

Aloysio Neves disse...

Muito bonito e reflexivo...parabéns!

Ivo de Souza disse...

Muito obrigado mesmo!

Unknown disse...

Gostei muito disso: para ele, andar de costas é estar

frente a frente com o que já passou.

É ter o futuro bem ali atrás,

como quem cutuca e rouba-lhe a paz.

Ivo de Souza disse...

Opa. Valeu, obrigado 😉

Estação das Letras disse...

Que lindo ! Muito bonito, com seus movimentos e sonoridades... E com o infinito dentro também que isso nunca pode faltar a um bom poema! Parabéns poeta Ivo que eu ainda não conhecia!

Ivo de Souza disse...

Na verdade, bonito mesmo é o trabalho que essa instituição faz em prol da cultura e cidadania. O que vem depois é consequência da semente plantada pela Estação: um belo pomar de poesias e afetos nobres.