quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Mistérios da fé


Em seus oitenta e três anos,
veias entortam o fio do tempo.
Os ossos em suas trincheiras 
dão forma ao frágil papel crepom
que hoje reveste apenas o corpo.
Em outros tempos, carnavais.

No genuflexório da vida,
os gemidos das mãos
guardam segredos
como borboletas em prece.

Se se abrem à pureza do ar,
não era para um último voo,
era para Deus abrandar a dor.

Se pousam feito fio de vela,
não era pois paz e conforto,
era para Deus vir em socorro.

À hora da sagrada hóstia,
tem medo, não quer comungar.
Ar por um triz. No corpo, frio.
Boca sem céu. Saliva silente.
E agora? O que resta? O véu
da terra. Da terra inclemente!

Mas, entre tantos santos
da Santíssima Trindade,
vibrou alta a mais bela voz:
- Ei! Acalma-te, Senhora!
Pois, quando longe se vai,
justo retorno é o caminho.
Se pecastes, não importa.
Muito menos, se ousasses.
Estás fora. És tu anjinho.

 


4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns! Bela reflexão poética sobre a vida no terceiro tempo

Arlindo Falco Junior disse...

Parabéns,até no sagrado andas bem.

Ivo de Souza disse...

Sacra imaginação 😇

Anônimo disse...

Empatia vertida em poesia! Parabéns