quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Salve-se quem puder

Pelo visto as coisas não estão somente ruins para os concursandos do ENEM. O jornal O Globo deste domingo publicou duas matérias drásticas em relação à educação em nosso país. Uma refere-se ao salário aviltante dos professores, pois um estudo da Unesco revela que 50% dos professores ganham menos de R$ 750,00, no nordeste - não se espantem - metade ganham menos de R$ 450,00, e a média nacional é de R$ 927,00; a outra saiu na coluna do Elio Gaspari, onde ele diz que 300 professores que receberam bolsas da CNPq e da Capes para estudar no exterior abandonaram o país e não devolveram o dinheiro ao governo. Temos então dois problemas que atingem esferas opostas da educação: a elite, minoria de doutorandos; e a grande massa de professores da educação básica, que abrange 77% do professorado.

Mas esses dois fatos têm apenas um motivo. Este é engendrado pela sociedade em que vivemos nos dias de hoje, uma sociedade extremamente individualista, fragmentada, onde não há mais noção de cooperação e ajuda recíproca. Nesse sentido, o outro é totalmente negligenciado e a noção de país foi extinta completamente. É como se cada um o carregasse, autonomamente, dentro de si. A isso chamamos de neoliberalismo.

Para se ter bons salários é preciso mobilização de classe. Só fortalecendo-a pode-se exigir melhor remuneração. E assim o é com outras categorias, pois conforme dados do Pnad/IBGE de 2006 a média salarial de arquitetos é de R$ 2.018; de biólogos, R$ 1.791; de dentistas, R$ 3.322; de farmacêuticos, R$ 2.212; de enfermeiros, R$ 1.751; de advogados, R$ 2.858; e de jornalistas, R$ 2.389. Esses números são evidentes por si: mostram a total incapacidade de organização política dos professores. Aliás, deve-se, antes disso, ter consciência de que essa categoria é tão ou mais importante do que as outras, pois é com ela que se forma nossos diversos porfissionais. Ora, para se ter bons profissionais é preciso bons professores, e para se ter bons professores é necessário boa formação e níveis dignos de trabalho. Assim, nesse desespero, muitos são obrigados a acumular duas matrículas, ou até mais, para melhorar suas rendas. Isso, porém, acarreta uma enorme sobrecarga neles, além de tirar oportunidades de quem está ingressando no mercado , os recém-formados, pois em geral admite-se somente profissionais já experientes.

Mas esse salve-se quem puder não se vê somente entre a educação básica. Há uma enorme evasão de pesquisadores no Brasil. Isto se deve a falta de incentivo à pesquisa e, como o próprio Gaspari salienta, à "falta de empregos decentes por cá". Com isso perdemos mentes brilhantes que poderiam estar trabalhando em prol do país, gerando assim novas tecnologias e patentes nacionais. Entretanto, como são espertos doutorandos - e isso não é nada fácil - chegaram a simples conclusão: Se o país não faz nada por mim, por que vou fazer alguma coisa por ele? E assim esses bolsistas se mandam esperançosos com suas malas e bolsas cheias, que contabilizam ao todo US$ 60 milhões de dinheiro público.

Conforme observamos, a confusão há muito já está instaurada. Se por um lado o governo não leva à sério a educação, pagando maus salários; por outro, toma calote dos pós-graduandos. A omissão e o empurra-empurra é generalizado. Não se organiza, busca-se mais matrículas, sai-se do país... Talvez o melhor mesmo seja dar aprovação automática, pelo menos todos firariam isentos de responsabilidades - até os alunos. Fora isso, deve-se encarar a educação com mais seriedade, e nos convencermos, definitivamente, de que só com ela se contrói um país digno. Se é que queremos isso? Pois, para muitos, é melhor se exilar em si próprio.

Boas Olimpíadas!

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