Os Complementos Verbais
Com um foco na questão adverbial
Suponhamos que alguém nos dissesse:
Eu compro.
Esta frase estaria incompleta,
pois logo viria a pergunta “Compra o quê?”. O verbo comprar então necessita de
uma delimitação semântica, já que quem compra compra alguma coisa. Mas a
relação predicativa estaria completa em
Eu compro um
carro.
Assim, um carro seria seu
complemento verbal. E neste caso específico objeto direto, pois tal complemento
não se dá por intermédio de uma preposição necessária. Logo, o verbo seria
classificado como verbo transitivo direto.
Dissemos preposição necessária
porque há verbos transitivos diretos que vêm acompanhados de preposição quando
queremos encarecer o ser a quem se destina a ação como
Amo a Deus
acima de tudo.
Ou quando queremos evitar
ambigüidade como
A Carlos chama
Carolina.
Já na frase
Marcelo deu o
livro ao seu colega.
O termo ao seu colega, tal como o termo o
livro, também completa o sentido do verbo. Só que dessa vez sob o
intermédio da preposição a. Por esse motivo ao seu colega é um complemento
verbal que receberá a denominação de objeto indireto.
Para alguns gramáticos frases
como
Carolina falou
de você.
Também teriam como complemento um
objeto direto, tendo em vista que de você
é termo que se acompanha de preposição. Esses autores, como Celso Cunha, estão
seguindo rigidamente a NGB. Mas para
outros, em que se incluem Bechara, Rocha Lima e José Carlos Azeredo, tal
complemento receberá a denominação de complemento relativo tendo em vista que
de disséssemos,
Carolina falou
do ocorrido à amiga.
Teríamos dois objetos indiretos
que não estariam coordenados, o que seria impossível.
Acrescenta-se também que somente
seria objeto indireto os termos que
pudéssemos substituir por pronome
oblíquo :
Carolina
falou-lhe do ocorrido.
Marcelo
deu-lhe o livro.
Eu disse-lhe
que ficaria em casa.
Como se vê ficaria anormal a
frase
*Carolina
falou-lhe à amiga.
Acrescenta-se ainda que o objeto
indireto só se dá com a preposição a e
raramente para e se refere somente a
ser animado ou capaz de tal.
Entregaram os
convites de casamento aos convidados.
Como estava
muito agitado, dei o osso ao cão.
Pedi perdão a Deus.
Por fim vale lembrar que o termo transitividade,
segundo Kury, significa em latim passar do verbo da voz ativa em passiva. O que
ocorre com os verbos transitivos diretos e, raramente, com os indiretos .
A polícia
prendeu os ladrões do banco.
Os ladrões do
banco foram presos pela polícia.
Dissemos até aqui que os ou
objetos diretos, indiretos e complementos relativos são necessários para restringir semanticamente
um verbo, que se encontra em aberto, ou seja, os verbos transitivos. Esses
complementos são termos integrantes da oração ou, na denominação de Bechara,
são argumentais, são indispensáveis para perfeita compreensão do enunciado.
Todavia a questão não é totalmente esclarecida quando nos deparamos com o
período
Ontem, os
surfistas foram à praia.
A gramática mais tradicional vai
considerar o termo à praia como
adjunto adverbial. O que causa estranheza é que se elidirmos tal termo,
Ontem, os
surfistas foram.
A oração fica semanticamente
incompleta, pois adviria logo a pergunta “Foram aonde?”. Logo, não há motivo
para encará-los como um mero termo acessório da oração, como um adjunto
adverbial. Fazer isso é querer equipará-lo ao termo Ontem, que pode ser facilmente retirado sem causar dano à
compreensão do enunciado.
Os surfistas
foram à praia.
Assim, à praia deve-se enquadrar como um verdadeiro complemento verbal. É
o que defende Evanildo Bechara, Rocha Lima, José Carlos Azeredo e Adriano da
Gama Kury. A questão toda é a não
unanimidade do termo, apesar de todos detectarem o mesmo fenômeno.
Evanildo Bechara vai chamar de
complemento relativo, mas põe no titulo deste tópico, na sua Moderna Gramática Portuguesa, de “Determinantes
circunstanciais ou adverbiais.” Tal termo tem a vantagem de ser bem amplo, tal
como um hiperônimo.
Rocha Lima vai chamar de
complemento circunstancial.
José Carlos Azeredo segue a
orientação de Bechara e também chama de complemento relativo.
Adriano da Gama Kury vai
denominar de complemento adverbial.
Pois diz:
“Complemento adverbial é o termo de valor circunstancial que
completa a predicação verbal de um verbo transitivo adverbial.”
Entretanto, há aí um problema de
denominação, pois se estamos falando de complementos verbais, é porque há um
complemento necessário do verbo. Se usarmos, porém, complemento adverbial
estaríamos então falando, seguindo a lógica anterior, de um termo que completa
o sentido do advérbio?
De qualquer forma, se referindo à
limitação da Nomenclatura Gramatical
Brasileira, admite, em relação aos verbos, Bechara, na sua Lições de Português pela
Análise Sintática, a denominação de “verbos transitivos adverbiais, isto é, os
que pedem como complemento uma expressão adverbial”(p.52).
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Parte inicial da monografia apresentada, em fevereiro de 2014, no curso de Pós-Graduação (Especialização) do Liceu Literário Português, sob a orientação do Prof. Evanildo Bechara.
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Parte inicial da monografia apresentada, em fevereiro de 2014, no curso de Pós-Graduação (Especialização) do Liceu Literário Português, sob a orientação do Prof. Evanildo Bechara.
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