A Cláudia Rocha
Poema dos sete erros
Ainda que o juízo, amor
seja sinuoso tal rio
que dos altos vales cai
e se biparte - igual setas
de relógio - por lâminas
afiadíssimas de pedras,
ainda é isso: mangue e calor.
Ainda que seja estranho,
ainda é juízo sim: a raiz
do raio que reparte o céu
da erva que reparte terra
da terra que reparte homens
dos homens desajuizados
cujo ar é de chumbo e estanho.
Há juízo ainda em borboleta
sem rumo certo, na concha
do coração nu e profundo,
nos nós cegos dos seus dedos,
das mãos cujos alvos ossos
rangem como velha porta
de casa escura, à espreita.
Há juízo ainda na revolta
dos mares, na tempestade
sem perdão (lâmina arisca),
e ainda na fome infinita
de quem não tem nem sol, paz
e pão. Mas peito aberto na fé
pois o que prende um dia solta.
Tal piscar de vagalume,
vi mais juízo na gramática
etílica e vil dos poetas,
a vasculhar sal e silêncios
nos passinhos das formigas,
do que o pisar (des)botado
que sentencia - e resume.
Tal relâmpago no bosque,
vi mais juízo da criança
sentada ao meio-fio do mundo
em contar pingos na poça
do que o general de estrelas
contar vitórias e baixas,
igual baiacu que incha e explode.
Se me pedes juízo, amor
te digo que ainda prefiro
um erro seguro na mão
a dois acertos voando.
É claro, não como pássaros
mas como míssil balístico
de precisão incerta e dor.
3 comentários:
Que lindíssimo parabéns amigo e poeta de primeira necessidade epoema
👏🏼👏🏼👏🏼
"...ví mais juízo da criança sentada ao meio- fio do mundo..." Massa.
Postar um comentário