LIVRO-ME
“(...) quando, estando a atenção de dois amigos ocupada no papel que há de cada qual desempenhar, a fim de enganar o outro, nem vê os artifícios praticados contra si, nem deles suspeita; e, destarte, a estocada de ambos (para usarmos de uma metáfora não imprópria da ocasião) é simultaneamente desferida”
Henri Fielding, Tom Jones
“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência”
Machado de Assis, Dom Casmurro
Um dia me disseram que a minha livre vida
é um livro, cujas páginas estão abertas.
Mas faltou-me uma quando me vi a folheá-las.
Páginas mais páginas; mas e aquela?... perdida.
Andaria pelo espelho e beco que ias tu?
Nua e suja se a via comentada na esquina
e no fim se fundia com outra alma ou outra sina?
Ou, por aleivosia, tê-la-ia arrancado Capitu?
Vasculho baús, porões de antigamente.
Acho cartas, fotos, memórias indigentes.
Mas capturá-la, insana arte, não consigo.
Talvez a tenha num cofre perdido de chave.
Ou não. Não se faz oculta e sorri com classe
nesta página que se finge aqui, de livro.
2 comentários:
lindo livro este da vida..acho maravilhosa esta metáfora!!evivv ameta fora da vida...
Congratulations pelo seu singular trabalho!
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