quarta-feira, 12 de novembro de 2008

LIVRO-ME


“(...) quando, estando a atenção de dois amigos ocupada no papel que há de cada qual desempenhar, a fim de enganar o outro, nem vê os artifícios praticados contra si, nem deles suspeita; e, destarte, a estocada de ambos (para usarmos de uma metáfora não imprópria da ocasião) é simultaneamente desferida”

Henri Fielding, Tom Jones

“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência”

Machado de Assis, Dom Casmurro



Um dia me disseram que a minha livre vida
é um livro, cujas páginas estão abertas.
Mas faltou-me uma quando me vi a folheá-las.
Páginas mais páginas; mas e aquela?... perdida.

Andaria pelo espelho e beco que ias tu?
Nua e suja se a via comentada na esquina
e no fim se fundia com outra alma ou outra sina?
Ou, por aleivosia, tê-la-ia arrancado Capitu?

Vasculho baús, porões de antigamente.
Acho cartas, fotos, memórias indigentes.
Mas capturá-la, insana arte, não consigo.

Talvez a tenha num cofre perdido de chave.
Ou não. Não se faz oculta e sorri com classe
nesta página que se finge aqui, de livro.

2 comentários:

sissa disse...

lindo livro este da vida..acho maravilhosa esta metáfora!!evivv ameta fora da vida...

Anônimo disse...

Congratulations pelo seu singular trabalho!