quarta-feira, 12 de novembro de 2008

ordem de grandeza


o mar era tão grande
e eu o via, lá longe
meu pai, quase nada
na arrebentação daquele horizonte

eu era grande
e as pessoas ao meu redor maiores ainda
como maior do que esses maiores ainda
era a terra
com seus minúsculos grãos de areia

minúsculo era o sol
tão minúsculo
que o segurava na palma da mão
e ao longe seus músculos sustinham-no
minúsculo na arrebentação

e eu tinha medo
medo de ficar sozinho
medo do que desconhecia
medo de tudo que era muito grande
sendo eu grande também
tinha medo
medo por mim e medo por meu pai
que lutava com as ondas gigantes

e aí? e se as ondas o levarem?
o que farei no meio das pernas dessas pessoas?
seguirei elas?
atravessarei sozinho com elas os sinais de trânsito?
subirei o mais grande edifício do mundo e de lá acharei meu
Pai?
ou o encontrarei nos orfanatos dos meninos crescidos?

há pernas há rodas há prédios
e qual seria o meu?
era um que tinha um muro cinza na frente
isso eu me lembrava
mas não me lembrava da rua do bairro do número
me lembro do muro e de um cinzeiro
pesado cinzeiro, feito de cristal
e polido todos os dias por minha mãe

e minha mão que cabia no sol
não cabia espalmada nele
no cinzeiro que era maior do que eu
e menor do que minha casa
isso sim eu me lembrava

aí me convenço porém me conformava
não
meu pai, lá pequeno nas ondas
que era grande era
era muito muito grande
era maior que tudo que é muito grande
era grandiosíssimo
(palavra que aprendera agora)

só não era maior que o mar
e seu curto
mas eterno horizonte


Ivo de Souza

Um comentário:

sissa disse...

nossa q lindo amigo é isso mesmo o medo e o mar,,,,danado de grande